O PIBID-EE


A Educação Especial é a modalidade educacional, que se ocupa de “assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação” (BRASIL, 2008, p. 13), também nomeados como alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE).

Na política educacional atual, as ações da Educação Especial são realizadas a partir de uma perspectiva inclusiva inserindo as pessoas com deficiência no sistema regular de ensino. Para tanto, a legislação preconiza que em paralelo a inclusão escolar, o sistema educacional crie o Atendimento Educacional Especializado (AEE) (BRASIL, 2009).

O AEE pode ser desenvolvido nas Instituições Especiais ou na escola regular. Quando nas escolas regulares, o AEE ocorre nas  Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs), espaço em que serão desenvolvidas “estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar” (ALVES, GOTTI, GRIBOSKI, 2006).

As SRMs funcionam com professores especializados em AEE que complementam ou suplementam as necessidades educacionais especiais dos alunos com NEE, no turno oposto em que ocorrem as suas aulas regulares. De maneira geral as salas são montadas considerando duas configurações: do tipo 1 com recursos materiais para que possam servir para o AEE de todos alunos com NEE; e a do tipo 2 com recursos materiais para os alunos com deficiência visual. Este presente projeto tem como objetivo apoiar de forma interdisciplinar as ações dos professores especialistas  em  AEE,  oportunizando  aos  alunos  das  Licenciaturas  de  Letras  Vernáculas, Pedagogia, Música, Artes Plásticas e Ciências Naturais, conhecerem e vivenciarem práticas de docência relacionadas às especificidades comunicativas dos alunos com NEE.

Porque a ênfase nos aspectos comunicativos?

A escola é um espaço onde coexistem diversos atores, e estes se situam não apenas no espaço da escola, mas inclusive fora dela, nos diversos contextos de desenvolvimento  com os quais os diversos atores interagem, como descrito por Bronfenbrenner (1996). A escola, concebida como um sistema de relações, necessita que a comunidade escolar, e não apenas o professor, se prepare para lidar com o que ocorre no cotidiano da sala de aula (PATTO, 1999). É fundamental fomentar, no ambiente escolar, a cultura do acolhimento à diversidade, promover situações de apreciação e acomodação da complexidade sócio-cultural dos seres humanos, trazer para as instâncias internas da escola, de forma crítica e contextualizada, o que acontece nos outros contextos em que a criança circula, ajudando-a a superar barreiras que as vivências extraescolares possam representar para o cotidiano escolar (SACRISTAN, 2002).A respeito dessas barreiras, Miranda (2008, p. 292) faz a seguinte reflexão:

Parece evidente a existência de barreiras no cotidiano da sala de aula, que dificultam o processo de interação e de aprendizagem dos diferentes alunos.  Essas barreiras são pedagógicas quando se referem às condições para construção do conhecimento no âmbito da  escola  e  atitudinais  quando  são  relativas  às  interações  sociais  e  se  relacionam diretamente com os aspectos pedagógicos, influenciando-se mutuamente.

Entendendo que a aprendizagem se dá com e no ambiente cultural onde a criança está inserida, impulsionando nessa dialética o desenvolvimento interior ou intrapsicológico do ser humano (VIGOTSKY, 1994), torna-se fundamental estimular a comunicação dentro do espaço escolar, ressignificar as situações, atenuando e derrubando as barreiras pedagógicas e atitudinais. Por ser um fato que as barreiras se influenciam, retroalimentando-se, é importante colocar um fim a esse círculo vicioso através do fomento à criação de situações  atitudinais que  estimulem  novas descobertas pedagógicas, motivando e assegurando a inclusão escolar.

A comunicação é ativa, intencional e desejada, e para se estabelecer pressupõe, por parte dos interlocutores (quem envia e quem recebe), um processo de análise e comparação das mensagens por eles produzidas. Este processo envolve uma “negociação de significados” em comum, ou seja, para analisar uma mensagem, o signo utilizado por quem o produziu deve ser entendido por quem o recebe. A negociação é considerada por Viñas (2004) como a base da interação comunicativa, e, portanto, do processo de comunicação, nesta negociação as barreiras interacionais precisam ser superadas.

A comunicação, pois, envolve a interpretação da mensagem por parte do emissor e do receptor. Sua composição se estrutura por um conjunto de símbolos previamente conhecidos e estabelecidos por ambos (a língua), devido aos significados atribuídos aos símbolos anteriormente negociados e que passaram a ser compartilhados. Este conjunto de símbolos é construído em decorrência das possibilidades  e  limitações  que  o  sistema  de  linguagem  permite  ao  sujeito.  A comunicação envolve, portanto, a linguagem, embora não seja sinônimo dela.

Neste projeto os bolsistas atuando como tutores que apoiam a comunicação dos alunos com NEE desenvolverão atividades relativas à adaptação das diferentes linguagens usadas na escola:
• Suplementação das informações impressas considerando outras formas de expressão gráfica além da leitura e escrita convencional. Como por exemplo: o sistema de leitura e escrita em braille, letras ampliadas, desenhos e figuras em alto relevo.

• Complementação das informações visuais e auditivas adaptando o material do aluno considerando as dimensões estéticas, tácteis e auditivas, favorecendo o entendimento dos alunos com NEE. Como por exemplo: criação de modelos tridimensionais representativos de conceitos, ideias, figuras.
O projeto será realizado na rede municipal da cidade de Salvador, nas escolas que estejam contempladas com sala de recurso multifuncional.

AÇÕES PREVISTAS

As ações de Atendimento Educacional Especializado (AEE) podem envolver desde a aquisição de uma língua, como no caso dos alunos usuários da Língua de Sinais, a adequação do espaço físico para um aluno com deficiência física, a alteração do conteúdo curricular para um aluno com deficiência intelectual, o ensino do sistema Braille, para um aluno cego, entre outras necessidades específicas que não estão previstas no cotidiano da escola regular (BRASIL, 2009). Este projeto irá se deter no AEE voltado para a superação das barreiras de comunicação dos alunos com AEE incluídos na rede municipal de ensino da cidade de Salvador-Bahia.

Em Salvador-Ba, a rede Municipal de Ensino foi contemplada com 49 Salas de Recursos Multifuncionais, todas do tipo 1. Deste quantitativo apenas destas 10 salas estão em funcionamento em 2012 (SMEC, 2012).  Estas 10 SRMs, seus professores e seus alunos serão a população para a qual está dirigida este projeto de PIBID.

O projeto  integra-se  também  às  atividades  da  pesquisa  OBSERVATÓRIO  NACIONAL  DE EDUCAÇÃO  ESPECIAL:  ESTUDO  EM  REDE  NACIONAL  SOBRE  AS  SALAS  DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS NAS ESCOLAS COMUNS, que tem como objetivo o estudo sobre  o  funcionamento  das  Salas  de  Recursos  Multifuncionais.  Pesquisa é coordenada por professores da Universidade Federal de São Carlos, apoiado pela CAPES/CNPQ e aprovada por comitê de ética com protocolo de nº 382/211.  É uma pesquisa em rede envolvendo 16 Universidades Públicas Brasileiras, dentre elas a UFBA (ONEESP, 2012) e vem sido desenvolvida na rede pública municipal da cidade de Salvador-Bahia desde 2011, estando no momento trabalhando de forma colaborativa com os professores das Salas de Recursos Multifuncionais.

Como primeira etapa do projeto serão realizados encontros com os 10 professores especializados responsáveis pelas salas de recursos multifuncionais do município de Salvador.  Nos encontros serão levantados o perfil dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais atendidos nas SRMs, identificando as formas de comunicação usadas por estes alunos, considerando a recepção e a emissão das mensagens. Também será realizado um levantamento das possibilidades materiais da sala de recurso multifuncional adequando a segunda etapa da proposta a estas possibilidades.

Na segunda etapa será apresentada uma proposta de ação interdisciplinar para ser desenvolvida em uma das 10 escolas, considerando a necessidade dos alunos e viabilidade de aplicação da proposta na escola. A proposta terá dois momentos  distintos:  inicialmente  as  atividades  de adaptação envolverão  as  formas  de  comunicação  utilizadas  pelo  aluno  com  NEE  para  receber  as informações;  no  segundo  momento  serão  desenvolvidas  atividades  de  adaptação  de  material envolvendo as formas de comunicação que o alunos com NEE usa para emitir a mensagem. O apoio  à  comunicação  dos  alunos  com  NEE  da  sala  de  recurso  multifuncional  escolhida, considerará as peculiaridades comunicativas dos alunos envolvendo:  

5.1. Adaptação para os alunos com NEE dos conteúdos escolares apresentadas na linguagem escrita utilizando:  ampliação  das  fontes; digitalização  dos  textos  transformando-os  em textos audíveis; transcrição dos textos para braille.
5.2. Adaptação para os alunos com NEE dos conteúdos escolares apresentados na linguagem oral utilizando: a língua brasileira de sinais (LIBRAS).
5.2 Adaptação para os alunos com NEE dos conteúdos escolares apresentados na linguagem visual utilizando: modelos tridimensionais e vivências tácteis e sinestésicas.

Ressalta-se que a segunda etapa, será operacionalizada de forma concomitante com a formação do bolsista nas técnicas pedagógicas de AEE, demandadas a partir do perfil dos alunos identificados na sala de recurso multifuncional escolhida para a realização da proposta.

Na terceira etapa serão organizados rodas dialógicas envolvendo tanto a escola onde a proposta foi efetivada como as demais 9 escolas que tem salas de recurso multifuncionais, socializando e analisando criticamente as ações docentes desenvolvidas visando a construção de uma prática de AEE contextualizada e eficaz para os alunos com NEE.

A quarta etapa consiste na elaboração de produções escritas que apresentam e discutam a prática do AEE no espaço da escola regular, a partir da docência na Sala de Recurso Multifuncional.

O aluno será estimulado a participar durante todo o percurso de realização do PIBID dos eventos acadêmicos relativos à temática visando socializar às suas vivências teórico-práticas e refletindo criticamente sobre o AEE e a formação dos alunos de Licenciatura.